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Papelão ondulado segue em expansão, mas preço das aparas preocupa

Por Tânia Galluzzi

Gabriella Michelucci atua no segmento de papelão ondulado há 35 anos. Já enfrentou muita crise e os impactos do sobe e desce da economia na indústria de transformação. Engenheira química, diretora de Embalagens de Papelão Ondulado na Klabin e, desde 2014, presidente da Empapel, Associação Brasileira de Embalagens em Papel (ex-ABPO), Gabriella empunha com propriedade a bandeira da valorização do setor em que milita. Nesta entrevista, ela fala sobre desabastecimento, elevação no custo das aparas, novas aplicações e as primeiras conquistas da Empapel.

A última vez que conversamos, em outubro do ano passado, a senhora dizia que, com otimismo, o fornecimento de papelão ondulado estaria normalizado em fevereiro de 2021. Porém em março a situação ainda era difícil. Qual o cenário hoje?

Tínhamos a expectativa de ter o ambiente sob controle no segundo trimestre. Na virada do ano, havíamos projetado crescimento em torno de 4% para o setor de papelão ondulado, número que revisamos para 4,5% no início de 2021. Terminado abril, revisitamos nossa proposição para uma elevação de 6,9% num cenário moderado. Só lembrando que no ano passado crescemos 5,5% e neste ano já estamos falando em 7%. Isso considerando a versão anterior do PIB. Os analistas falam agora em 4%, 4,5% de crescimento do PIB em 2021. Provavelmente no final do segundo trimestre teremos uma nova previsão de expansão para o segmento.

Fechamos abril com o 10º recorde mensal consecutivo em entregas de embalagens de papelão ondulado. Olhando esse cenário de forma moderada, existe sim a probabilidade de acumularmos novos recordes dentro do ano. Eu diria que é um cenário bastante positivo.

Analisando este segundo trimestre, já temos informações de melhoria nos prazos de entrega. Antes da pandemia, tínhamos prazos de entrega entre sete e 30 dias. O que aconteceu é que os sete permaneceram sete e os 30 viraram até 60 dias. Somos um setor customizado, que trabalha sob encomenda, e essa elasticidade no prazo de entrega trouxe uma tensão entre nós, os fabricantes, e o mercado, porque os estoques dessa cadeia, que já praticamente não existiam, entraram num estresse muito grande.

Apesar de todos os problemas, não tivemos desabastecimento. Você pode não ter encontrado o leite de uma marca específica, mas várias outras estavam à disposição. Não houve parada na fabricação de papel, nem de embalagem. O setor continuou forte e absorvendo o crescimento na demanda. Em 18 meses seguidos batemos 15 recordes de expedição. Isso sem investimentos novos no setor, mas obviamente com ganhos de eficiência.

A base da indústria de papelão ondulado é a fibra reciclada e em nossa conversa anterior a senhora relatou problemas no fornecimento de aparas por conta do necessário isolamento social. O quadro já se normalizou?

Ainda não tivemos a recuperação plena dessa logística reversa. Os estoques nessa parte da cadeia, no reciclador, estão muito baixos. Não há piora, mas uma estabilidade num nível baixo. De abril de 2020 até abril deste ano, o preço da apara subiu 165%. Em maio ocorreu a primeira estabilização, mas sem uma definição do que vai acontecer no segundo semestre e sem viés de baixa, o que é uma posição incômoda.

Agora falando de sustentabilidade, quais são as linhas de pesquisa e desenvolvimento nas quais a indústria de papelão ondulado vem trabalhando?

Há muitas oportunidades para embalagens de papelão ondulado, sobretudo a partir do desenvolvimento de barreiras a base de fontes renováveis. Tendo acesso a essas barreiras, nosso universo se amplia muito. No curto prazo, o que veremos é a substituição de embalagens plásticas de uso único para embalagens de papel. Já encontramos nos supermercados bandejas de papelão ondulado substituindo o isopor em embalagens de alimentos porcionados como legumes e frutas.

Outra tendência, realidade no mercado externo, é a shelf-ready packaging, que é a embalagem que transporta, armazena e vai direto para a gôndola, organizando os produtos e apresentando a marca. Nessa linha, estamos vendo o setor investir em tecnologia, buscando maior definição na impressão,

Finalizando, como foram os primeiros meses da Empapel e o exercício de aproximação com outras entidades?

Foi desafiador. Concluímos em dezembro de 2020 o processo de transição da ABPO, depois de 45 anos, para a Empapel. Já conseguimos trazer novos associados do nosso próprio setor e lançamos o IBPO, Índice Brasileiro de Papelão Ondulado, que envolve os números que citamos no começo da entrevista.  Passados cinco meses de existência da Empapel, consolidamos uma relação que já vinha sendo construída junto à Ibá e à ABTCP, alugamos um andar de um prédio, onde coexistiremos, cada qual com sua associação, mas lado a lado.

As três entidades vão compartilhar áreas comuns, como contabilidade, departamento jurídico e financeiro. Esperamos terminar as obras em 90 dias. Também nos aproximamos muito de Two Sides, e temos discutido vários assuntos todos juntos, inclusive com a Abigraf. A primeira etapa que era tornar o setor mais forte, mais unido, já conseguimos. A próxima é incluir outros segmentos das embalagens de papel dentro do nosso universo e trazer novos indicadores, dando visibilidade a esses produtos em todo o Brasil.

Entrevista originalmente publicada na Revista Abigraf edição 308

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